domingo, 1 de julho de 2012

Alessandro Cardoso - O LÍDER DA CIA. DE DANÇA ATMOSFERA 


Quando conheci este rapaz em 1999 com um ar militar e vigor na voz, imaginei que deveria dar trabalho em cima dos palcos, e não me enganei. Mas, nem de longe poderia vislumbrar a história que ele escreveria com a sua dança aqui em São Vicente e em muitos outros lugares, inclusive em Portugal.
Dançamos juntos no Fator, foi lá que conheci Alessandro Cardoso, "Sandro" como costumo chamá-lo. Logo fundou a Cia. de Dança Atmosfera com jovens muito talentosos e com um grande potencial latente.
Falo do que vi e vivi, pois estive no início deste trabalho esculpindo e coreografando as (então crianças) do Atmosfera Jr.
O começo foi suado e difícil como na maioria das histórias e muitos foram os obstáculos que surgiram durante todo este tempo. Mas, quem já viu o "ATM" no palco sabe que estamos falando de um grupo guerreiro, surpreendente e raçudo. Foram superando uma a uma as dificuldades e conquistando o respeito e o reconhecimento.
Conheçam um pouco da história deste líder, dançarino e amigo de todos os seus integrantes. Que tem seu espaço na cidade, que conquistou com muita luta e coragem e que tem muitas coisas boas para nos mostrar.


     


      Dançarinos de SV:     Alessandro, como você descobriu sua vocação para a dança?

Alessandro Cardoso: Bom, tudo começou quando eu tinha 12 anos, foi quando vi meu ex-cunhado dançando Miami com uns amigos dele e me apaixonei pela dança. Depois de um tempo vi um grupo de dança no programa da Xuxa. Esse grupo era o Dança de Rua do Brasil. Fiquei deslumbrado, e comecei a praticar a dança de rua.


 
Dançarinos de SV: Conte um pouco sobre o início da sua carreira, em que grupos você dançou e como foi construída a sua formação?

 Alessandro Cardoso: Depois que vi o grupo Dança de Rua do Brasil na TV eu fui procura quem dava aulas de dança, e foi quando conheci um rapaz chamado Luiz Felipe. Conversei com ele e disse que queria ter aulas de dança de rua, ai ele disse assim pra mim: - Arruma mais gente que montamos um grupo, e foi o que fiz. Depois de um tempo, tivemos uma discussão e sai do grupo. Ai eu tive a idéia de montar meu próprio grupo, convidei um amigo chamado Jonathan e fundamos o grupo Impacto Night, mas infelizmente ele não pode continuar. Aí fui ajudar um grande amigo meu chamado Evanilson, que também era novo na dança de rua. Ele fundou um grupo que não me recordo o nome e eu o ajudava.
Eu já estava dançando na Cia de Dança Nação de Rua da cidade de Santos dirigida e coreografada por Ricardo Dias. Logo depois tive que parar de dançar para servir o exercito brasileiro.
Voltei para a dança ao termino do meu serviço militar obrigatório. Aí conheci o Douglas Rebelo que me convidou para integrar o grupo dele chamado Fator Funk,  hoje (DR Cia.) no qual fiz parte por um ano, voltando depois a integrar novamente a Cia. de Dança Nação de Rua de Santos.
Por lá passei alguns anos, vindo depois a integrar o grupo que me motivou pra dança, o Dança de Rua do Brasil de Santos.
Foi trabalhando com esses profissionais e absorvendo informações que eu me formei professor e coreógrafo.


 
Dançarinos de SV: Quais foram as maiores dificuldades que enfrentou no começo?

Alessandro Cardoso: A falta de dinheiro. Pois, tudo tinha um custo: uniformes, figurinos, inscrições de campeonatos, passagem de ônibus... Eu era criança e minha mãe fazia de tudo para me manter na dança. Se hoje sou o que sou e tenho o que tenho na dança agradeço a Deus e a ela que sempre me apoiou.


 
Dançarinos de SV: Como surgiu a vontade de criar sua Cia. de Dança?

Alessandro Cardoso: Surgiu quando percebi em mim mesmo o potencial que tinha para liderar e vontade de fazer a diferença. Sempre fui um jovem de garra e determinado. Sempre morei na periferia, e convivia com os problemas sociais. Eu percebia a falta do poder público em desenvolver projetos sociais na comunidade onde eu morava.
Decidi então formar a Cia de Dança Atmosfera. Foi o primeiro grupo de dança de rua situado no distrito continental de São Vicente.




Dançarinos de SV: E o projeto, conte um pouco sobre a história deste ideal?

Alessandro Cardoso: O projeto no início chamava “Dançando com o Atmosfera”, onde tínhamos núcleos em outros bairros atendendo assim, crianças e jovens de baixa renda. Era um sonho poder abrangi o meu trabalho e meu nome fazendo aquilo que Deus me deu o dom da arte da dança e liderança.

  Dançarinos de SV: Quais são as principais dificuldades para se desenvolver um projeto com dança? E Por quê?

Alessandro Cardoso: As dificuldades de desenvolver um trabalho como este é a falta de apoio. Por que precisamos de uma estrutura para que as atividades possam ser ministradas com qualidade aos alunos.


 Dançarinos de SV: A Cia. de Dança Atmosfera já conquistou muitas premiações, você se lembra de todas? Quais foram?

Alessandro Cardoso: Poxa, já estou velhinho... (kkkkkkkkkk) não me recordo de todas por nomes não.  Mas sei o total de premiações, são 60 prêmios. Sendo 30 em primeiro, 15 em segundo, 12 em terceiro, 2 quintos e 1 em quarto. Mas o que sempre me importou nas competições não era o troféu ou a colocação,  e sim o intercambio cultural que nos proporciona aprender com outras pessoas. O trabalho sendo bem feito e o reconhecimento do publico, se o meu grupo agradar o público, esse sim pra mim é o maior prêmio


Dançarinos de SV: Conte-nos um pouco sobre a sua experiência fora do Brasil?

Alessandro Cardoso: No começo não foi tão boa, pois eu não estava acostumado com a cultura européia. Mas aos poucos eu fui me adaptando. E ter ministrado aulas em Lisboa foi pra mim a valorização e o reconhecimento de tudo que fiz pelo social e pela dança. Eu acho que eu merecia isso sabe, poder ir pra fora me trouxe reconhecimento e também credibilidade naquilo que faço perante a sociedade.
Dançarinos de SV: Por que decidiu ser coreógrafo?

Alessandro Cardoso: Decidi ser coreografo porque ser apenas dançarino já não me supria mais... Senti que tinha capacidade de evoluir e pra ter essa evolução eu tinha que montar um grupo de pessoas para mostrar que eu era capaz de fazer a diferença. E mostrar pra mim mesmo que, quando se tem um sonho não importam os obstáculos. Você deve sempre tentar aquilo que almeja, mesmo que seja uma algo simples. Mas tente, busque não importa o que falem ou tentem te desmotivar, creia em Deus, levanta a cabeça e vá a luta em busca do que te completa.


  Dançarinos de SV: Além dos movimentos, o que mais você procura passar para os seus alunos?

Alessandro Cardoso: Eu sempre digo que a dança ira passar nas nossas vidas, mas o valor da nossa amizade não. Tento explicar para eles que em tudo que fazemos temos que ter responsabilidade, comprometimento, dedicação e perseverança. Quero que eles se tornem bons cidadãos, ensino a eles que ser apenas um bom dançarino não é o mais importante e sim ter uma boa cabeça e ser uma boa pessoa. Porque, se você tiver uma cabeça aberta, ouvir e confiar no seu coreógrafo, você se tornará um excelente dançarino.

Dançarinos de SV: Como você concilia família e carreira?

Alessandro Cardoso: Para mim nunca foi difícil, pois no começo da minha carrera eu morava sozinho. Depois, conheci minha esposa Patrícia, hoje temos um filho lindo de 1 ano e 9 meses chamado Kenzo. Ela sempre me apoiou, mesmo quando eu estava triste e com dificuldades, ela nunca me deixou esmorecer. Ela, minha mãe Dora, minhas irmãs Adriana e Andréia e meus sobrinhos Danilo, Douglas, Anderson, André, e Sandrinho adoram o que faço. Não posso me esquecer do meu, já falecido, padrasto Wagner que, também, sempre esteve do meu lado.
O meu, também falecido, pai não gostava muito mas não falava nada que me desmotivasse.  Eu sempre tentei ser um marido, um pai, um filho, um irmao e um tio presente e com o apoio de todos eles sempre ficou fácil seguir em frente na dança.


 
Dançarinos de SV: De todas as experiências que você vivenciou dentro da dança, qual foi a que mais te marcou? Por quê?

Alessandro Cardoso:  Bom, na verdade foram duas que me deixaram sequelas pelo resto da vida, ambas em 2004. A primeira, eu ministrava aulas num projeto chamado CECOF, hoje (CER) onde fundei o grupo Nova Geração, eu tinha levado as crianças para disputar um campeonato no Colégio Leão 13 em santos. Ficamos todos felizes, pois aviamos ganhado o primeiro lugar, voltamos para nossas casas, e já era noite, eu fui dormir. Quando acordei pela manhã, percebi que meu olho esquerdo estava vermelho eu achei que era conjuntivite. Pois, naquela época estava um surto. Depois de quatro dias, veio a decepção com a confirmação de uma doença grave chamada uveite que é uma inflamação por traz da retina do olho e veio a constatação que eu aos meus 24 anos de idade estava cego do olho esquerdo. Na época eu não me abalei muito, mas hoje, às vezes, fico um pouco triste, pois a estética do meu olho esquerdo mudou. Tive um desvio de retina que me deixou estrábico. Mas toco minha vida com muita fé em Deus.
E a outra aconteceu quando eu dançava no grupo Nação de Rua de Santos,  na marcação de palco eu era um dos meninos que faziam saltos acrobáticos e tive um deslocamento do ombro direito por pressão, é quando todo peso do corpo fica em cima do ombro. Depois desse dia foram anos tendo o ombro saindo do lugar. Isso foi se agravando e me tornou num dançarino e coreografo limitado. Não conseguia ser o mesmo dançarino que tinha como marca a minha força e energia. Sendo assim meu ombro saiu do lugar 21 vezes. Tive que passar por uma operação, hoje tenho 2 ancoras de aço no ombro e refizeram parte dos ligamentos laterais do ombro, melhorou mas não consigo fazer o que fazia antes.

Dançarinos de SV: Agora você está à frente do Projeto D. A. C. Quais são as suas expectativas, e qual o principal objetivo deste projeto?

Aulas no Projeto D. A. C.
Alessandro Cardoso: As minhas expectativas são de ampliar esse projeto para formar núcleos em cada bairro do distrito continental de São Vicente. O objetivo do projeto é trabalhar junto com a comunidade para o crescimento e o desenvolvimento social desta região através das aulas ministradas pelo D. A. C. O projeto tem como foco ajudar na formação de bons cidadãos, e ajudar as famílias na educação das crianças e jovens, podendo estar inserindo-os no mercado de trabalho.
Dançarinos de SV: O que você gostaria de dizer para todos os integrantes da Família Atmosfera?

Alessandro Cardoso: Quero agradecer a todos que fizeram parte dês do inicio da minha carreira como professor e coreografo, e os que estão comigo hoje, sem vocês eu não chegaria aonde cheguei na dança. Quero dizer a vocês que não importa os obstáculos que a vida coloca em seu caminho, lute sempre por aquilo que vcê acredita, não permita que as pessoas tirem de você o seu sonho. Pois, não existe o impossível, o céu é o limite e você também um dia chegará lá.
 O projeto D. A. C. é fruto de tudo que fizemos no passado. Um trabalho sério, honesto, digno e feito com muita responsabilidade. Você “atmosférico” é diferente, nós somos diferentes porque trabalhamos com objetivos diferentes. Lembre-se: “dançar não é apenas uma sucessão de movimentos. É uma arte que inflama nosso sangue e faz com que nosso corpo expresse todo nosso sentimento por ela”. Por isso, não critique, dance.

Dançarinos de SV: Deixe uma mensagem para todos os leitores que acompanham, ou passarão a acompanhar o seu trabalho:


 Alessandro Cardoso: Caros amigos, eu sou assim, personalidade forte, corro atrás dos meus objetivos. Sou amigo, sou parceiro, mas não espere de mim coisas fáceis, pois a vida foi muito dura comigo. Respeite-me e terá um grande amigo, contem sempre comigo para o que precisarem. E fiquem atentos as atividades da Cia. de Dança Atmosfera e do Projeto D. A. C. novos projetos estão por vir. Obrigado a todos os amigos que sempre me apoiaram. Aproveito a oportunidade para agradecer o Ricardo Dias que me ensinou muito sobre dança, ao Douglas Rebelo que faz parte da historia da Família Atmosfera, ao meu amigo Danilo Otto diretor de juventude de São Vicente que tanto esta ajudando nosso trabalho, a "Néia" que esta sendo fundamental no projeto D. A. C., Ao padrinho deste projeto: Caio França por todo o apoio ao “Dança, Arte e Cultura” e quero agradecer a você Alabá pela oportunidade de mostrar um pouco da minha historia, obrigado a todos.




Estamos num período de transição, onde muitas mudanças estão ocorrendo em vários segmentos.
Dentro da dança não é diferente. Tudo muda numa velocidade incrível, a Cia. de Dança Atmosfera sempre acompanhou as inovações do cenário artístico, mantendo sua característica e seu selo de autenticidade.

Aguardamos com ansiedade essas novidades.
E termino está matéria com um vídeo da Cia. de Dança Atmosfera - 1º Lugar no Festival Dançarte da cidade de Salto/SP para a apreciação de todos vocês.






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